Friday, June 20, 2008

Unfaithful therapy

Apenas queria despejar o meu corpo descarnado em camas alheias e mortas. Mas essas camas que me foram reveladas através da noite e que me eram estranhas pertenciam a todos e, em especial, a mim.


A partir da tua existência, quando anoitecia - se anoitecia – comecei a observar-te apenas através dos espelhos da minha casa no teu deambular inconclusivo. Mas nunca conheci a razão. A conclusão era só tua e não querias – e nem pretendias - partilhá-la comigo.

Enchi então as paredes de reflexos espelhados e, fosses um gato sem cio, ganhava a tua confiança para que descansasses acomodado nos meus braços sem que viesses a pertencer-me algum dia. Como felino com instinto que sempre foste, fugiste-me através do reflexo da janela escancarada por esquecimento para que pudesses encontrar a cópula que nunca iria preencher-te.

Agora estou aqui. Prostada numa cama alheia a ti, olho pacientemente para o já único espelho de minha casa. Os outros fui destruindo em vão. Comecei a sentir-me peregrina sem terra por (re)ver-me sem a tua imagem ao lado da minha. Embora já não me lembre de como eras - se o foste.

Das feições incógnitas descritas na minha mente apenas tenho a percepção de que eras melhor do que eu. Mais belo. Mais inacessível. Menos alheio por não possuíres um leito onde pudesses repousar. Só a minha alma te pertencia. Mas até disso serias capaz de abdicar se pudesses.

Por isso, ainda hoje há uma parte dela que responde com dor à tua ausência e com alegria ao esquecimento. O resto do que eu sou é devoção acomodada.

No comments: