Sunday, September 20, 2009

A velha do comboio

Enquanto lia no comboio, José sentiu-se observado por uma velha sentada mesmo à sua frente que reivindicava atenção através de um olhar azul, insistente, incomodativo até.
Combatendo tal impressão, José tentava, a todo o custo, manter-se ligado às linhas das palavras escritas, mas já se tinha rendido à teima daquela velha.
Fechou o livro e fitou-a severamente, como que a repreender uma criança pequena. Mas a velha não desviou o olhar por um segundo sequer. Pareceu a José até que nem pestanejava, limitando-se a manter um sorriso trocista em desafio e uma brandura seca nos olhos.
Isso incomodou-o ainda mais.
José não queria crer que alguém tivesse tal ausência de sensibilidade. As pessoas não deveriam mirar tão abertamente as outras. É inconcebível e uma falta de respeito. É de mau tom.
E a velha continuava, completamente alheia às reflexões conclusivas de José, que já se imaginava de mãos no seu pescoço.
Em meia hora de viagem de comboio José sentiu que envelhecia de desassossego. Surgindo questões em caudal descontrolado: sobre a sua aparência física, o passado e o futuro, a longevidade daquela velha e o que deveria fazer em retorno.
Enfim, confrontado pelo imponderável e pelo descontrolo sobre uma única acção externa que ganhava relevo substancial.
Mas que intenções. Que intenções tinha aquela velha para fitá-lo daquela forma?

4 comments:

tynta said...

LoL, EstE post É mUito EngRaçaDo.. a minha tEsE DE LicEnciatURa Foi soBRE isto... :D

BlankPage said...

Lol Já não me lembrava! Vi isso acontecer no outro dia, na linha de sintra..

Verônica Morón said...
This comment has been removed by the author.
Verônica Morón said...

uma vez olhei demoradamente à uma pessoa assim num comboio ou metro...nao me lembro. Uma delas era mto parecido com alguem que eu gostava mto e há mto tempo nao via. A semelhança era tanta que fiquei realmente viciada em admira-lo e tentar encontrar ali qualquer coisa que nao sei explicar. Da outra vez eu tinha gostado de como a pessoa era. Tinha uma aparência que me instigava muito o olhar. Acho que as coisas podem ser mais simples do que pensamos. Nem todos os olhares devem nos repreender...mas claro, podem constranger!